top of page
ECONOMIA CIRCULAR

Escopo 3: da narrativa de risco à agenda de oportunidades

  • Foto do escritor: Diana Lima
    Diana Lima
  • 9 de out.
  • 2 min de leitura

Quando falamos em sustentabilidade corporativa, ainda é comum associá-la apenas à gestão de riscos. O relatório Strengthening the Chain, Transform the Norm (CDP/HSBC, 2024) revela, no entanto, que essa narrativa já não basta: as empresas estimam US$ 162 bilhões em riscos financeiros em suas cadeias de suprimentos, mas, paradoxalmente, reconhecem US$ 165 bilhões em oportunidades ligadas à transição climática.


O ponto crítico está no escopo 3: as emissões indiretas da cadeia de valor são, em média, 26 vezes maiores que as emissões diretas. Apesar disso, apenas 15% das empresas possuem metas específicas para esse escopo, o que expõe uma lacuna entre discurso e prática.


Redes circulares: a chave para reconfigurar o escopo 3

É justamente aqui que a economia circular, estruturada pelas normas da série ISO 59000, oferece um caminho estratégico. A ISO 59010 orienta empresas a evoluírem de cadeias lineares para redes de valor circulares, mapeando fluxos de materiais, energia e resíduos e estabelecendo modelos de colaboração que geram resiliência.

Ao integrar fornecedores, clientes, municípios e até concorrentes, surgem novas possibilidades de inovação:

  • Simbiose industrial (uso de resíduos de um setor como insumos de outro);

  • Compartilhamento de infraestrutura;

  • Plataformas digitais de rastreabilidade, que permitem maior transparência e métricas climáticas consistentes.


Na prática, o risco identificado pelo CDP pode ser reconfigurado como valor quando a governança incorpora os princípios da circularidade: pensamento sistêmico, rastreabilidade de recursos e compartilhamento de valor.


Exemplos concretos: inovação a partir do escopo 3

Um caso emblemático é o da SLB (energia), que criou o Horizon Analysis para medir a maturidade climática de seus fornecedores. Mais do que mitigar riscos, a iniciativa abriu espaço para inovação conjunta, transformando vulnerabilidades em soluções de rede.

Esse é o movimento que a circularidade propõe: não apenas proteger o negócio, mas expandir mercados e parcerias.


O equilíbrio entre riscos e oportunidades

O dado mais provocador talvez seja este: os riscos e as oportunidades financeiros já estão praticamente equilibrados. O que fará diferença é a capacidade de integrar métricas climáticas (CDP) e estratégias circulares (ISO) em uma visão de longo prazo.

A escolha está posta: continuar contabilizando riscos ou estruturar uma rede de valor capaz de capturar oportunidades.


No fundo, o escopo 3 não é só sobre medir emissões: é sobre enxergar sua empresa como parte de uma rede de valor. Enquanto muitos ainda contabilizam riscos, outros já estão desenhando novas formas de colaboração, inovação e receita.


A pergunta que fica é: sua organização vai se limitar a reagir ou vai redesenhar o jogo a partir da circularidade?


Referências CDP; HSBC. Strengthening the Chain: How collaboration across value chains can drive climate action and reduce emissions. London: CDP Worldwide, 2024. Disponível em: https://cdn.cdp.net/cdp-production/cms/reports/documents/000/007/890/original/CDP_HSBC_Report_2024.pdf

bottom of page