O paradoxo da reciclagem no RS: entre perdas na triagem e problemas de qualidade dos resíduos
- Diogo Yano
- 24 de set.
- 2 min de leitura
O Rio Grande do Sul enfrenta um paradoxo quando o tema é reciclagem. Embora plásticos de alto valor de mercado como PET, PP e PE estejam amplamente consolidados, uma parcela significativa desses materiais ainda termina em aterros ou chega sem a qualidade adequada aos recicladores. Estudos recentes revelam que as perdas na triagem e os problemas de qualidade dos resíduos estão custando caro para toda a cadeia.
O que se perde na triagem
Na média, 25% de tudo que chega nas centrais de triagem se transforma em rejeito. Dentro desse volume, cerca de um terço corresponde a recicláveis – principalmente plásticos – que poderiam estar circulando na economia, gerando renda e evitando o descarte inadequado.
A gravimetria abre a “caixa preta” dos resíduos, revelando o que está sendo desperdiçado. Embalagens de alimentos, bebidas e produtos de higiene aparecem de forma recorrente nos rejeitos, apontando gargalos específicos da cadeia. Cada tonelada descartada representa não apenas desperdício ambiental, mas também oportunidade econômica perdida.
O que chega, chega mal
Mesmo os materiais que saem da triagem enfrentam desafios. Apenas 25% chegam aos recicladores sem mistura. A pesquisa sobre aderência aos padrões da Rede pela Circularidade do Plástico mostrou uma média de 49% de conformidade: PET apresenta 68% de aderência (melhor desempenho), PP fica em 45% e PEBD em apenas 30%.
As causas são estruturais. Cooperativas misturam materiais porque não conseguem formar fardos puros em escala comercial. Intermediários aceitam esse material misto, perpetuando a prática. Além disso, cada elo da cadeia adota critérios diferentes, o que gera expectativas desencontradas e reforça os problemas de qualidade dos resíduos.

A conexão entre os problemas
As perdas na triagem e a baixa qualidade dos resíduos retroalimentam um ciclo de ineficiência sistêmica. O resultado é a sobrecarga dos sistemas de coleta, transporte e triagem, comprometendo tanto a recuperação de materiais quanto a competitividade do setor. Esse cenário também foi identificado no Atlas Brasileiro da Reciclagem, que aponta dificuldades semelhantes em outras regiões do país.
Não basta ampliar a coleta: é preciso melhorar a triagem e padronizar o que chega aos recicladores. Padronização não é burocracia – é competitividade. Quando cada elo da cadeia tem clareza sobre os critérios de qualidade, há previsibilidade, redução de custos de transação e fortalecimento da cadeia como um todo.
Referências Atlas Brasileiro da Reciclagem: Ano 2 – São Paulo: Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis – ANCAT, 2024.
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